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Editorial – O guardião da Boa Terra

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Perde a Bahia, não só um intelectual capaz de produzir farto conhecimento, graças ao imenso repositório de informações confiáveis, mas antes de tudo, homem generoso, dócil em seu humor cativante, deixando saudade para quem com ele privou do bom convívio.  
Parte Cid Teixeira, deixando com sensação de órfãos os seguidores conscientes de sua importância decisiva para proteger nossa coleção de lembranças, a partir das quais se pode construir um perfil identitário, pois sem conhecer o passado não há futuro.  
A história das civilizações não poderia ter-se desenvolvido sem participação de seus memorialistas, aquelas pessoas dedicadas a registrar, primeiro em canto e poesia, depois em outros gêneros e meios, notadamente o livro, os fatos relativos à metamorfose das culturas.  
Dos primeiros aedos de adensamentos populacionais da Antiguidade aos contemporâneos zeladores do saber coletivo dos povos, do pergaminho à internet, são 30 séculos de incentivo ao bem imaterial capaz de constituir as mais fortes nações.  
Enquanto trabalhador da memória, gêmea da verdade, jamais o professor agora ausente negou-se a revelar qualquer aspecto dos tesouros baianos, considerando a possibilidade de refutar algum dado provisório.  
Ao pisar no calçamento de uma rua, não estava apenas movimentando o corpo sobre a via pública, havia ali toda uma elaboração, operando a mística de unir priscas eras à aurora do dia, uma vez poder reencontrar, nesta simples caminhada, fragmentos perdidos no tempo.  
Ficam os gestores incumbidos das devidas homenagens, em monumentos, nomes de instituições de ensino, pesquisa e extensão ou logradouros, ao grande baiano apreciador do bom acarajé, sempre solícito ao explicar tratar-se do “bolinho de fogo” ofertado a Oyá Iansã. 
Com a força deste didatismo, ampliado no ambiente digital, é possível acreditar na capacidade de gratidão de todos quantos admiram o legado de quem dedicou a vida a ensinar a amar cada pedacinho da trajetória da “Boa Terra”, como era hábito nomear.