Foi no ano passado que o gosto por criar usando madeira fez com que Rafael Avila criasse a Bob Marcenaria Artesanal. Esse nome veio de um apelido seu que surgiu na infância, inspirado em Bob, o construtor, desenho infantil dos anos 2000 onde o personagem ajuda a cidade resolvendo diversos problemas. “As pessoas faziam piada disso porque eu sempre fui de construir minhas próprias coisas”, lembra.
Com algumas ferramentas e junto com seu pai, Rafael conta que quando compravam um móvel, eles faziam questão de instalar eles mesmos. Mas foi durante a pandemia que o hobby da marcenaria surgiu mais forte e Rafael, que é graduando em publicidade, “apenas para ter um diploma”, começou a fazer cursos e se especializar mais.
“Fiquei pensando em construir alguma coisa interessante para mim no quarto vazio aqui em casa. Mostrei no Instagram e tive um retorno muito legal dos conhecidos”. Depois do incentivo da família e amigos, Rafael começou a aceitar encomendas e equipou um local da casa com ferramentas mais profissionais. “O hobby virou realmente minha profissão”.
Ele passou a aprender não só sobre marcenaria, como também, e principalmente na prática, as outras funções de se ter um negócio. Além de buscar fornecedores, se manter competitivo com as grandes lojas foi uma dificuldade a mais já que houve “oscilação de preço o tempo inteiro e é complicado passar isso pro nosso cliente final”, explica o empreendedor.
“E tive que mudar minha visão, quando comecei a fazer para os outros passei a me cobrar muito mais, precisava entregar algo perfeito para dar segurança para as pessoas que eu fazia o orçamento. Passar uma visão profissional do que eu estava fazendo, de que não é algo que faço no fundo da garagem de qualquer jeito”, ressalta Rafael.
Fernanda fazia peças para a própria casa e família e, em 2020, transformou o crochê em sua fonte de renda
| Foto: Arquivo pessoal
Profissionalização
Fábio Rocha é especialista em carreira e diretor-executivo da Damicos Consultoria, focada em desenvolver lideranças. Ele explica que se você tem algum passatempo em que é bom, não significa que ele dará certo como sua profissão. “O empreendedorismo é uma carreira e não simplesmente uma atividade, (é preciso) se preparar para aquele ciclo”.
“Há uma grande diferença quando aquela coisa pontual se transforma na sua principal atividade. Uma coisa é jogar bola por jogar bola, outra é tentar ser jogador profissional”, exemplifica Fábio. Pensar bem nessa nova relação de intensidade que vem com o trabalho é o primeiro passo para entender se você deve investir em fazer o empreendimento, se ele “vai te preencher ou se vai começar a ter raiva do hobby”.
A dica que Fábio dá é a de analisar quais são suas habilidades para além do hobby: “É necessário um mapeamento das suas competências profissionais para que você olhe para a ideia de empreender e avalie quanto que essas competências te apoiam ou não naquela atividade. Entender de gestão financeira, planejamento, relacionamento com fornecedores, a própria gestão de pessoas”.
“Se é um hobby, significa que já estudou, leu sobre ou vivenciou aquela atividade. Mas como a gestão tem desafios bastante amplos, invista no seu processo de tomada de decisão para minimizar esse medo e o risco. Ouça pessoas, visite negócios similares, faça pesquisa de mercado. Saiba quais recursos vai usar, qual o volume do investimento, se é um resultado de curto ou longo prazo e se tem uma reserva folgada caso não dê certo”, instrui.
Decidir seguir com um negócio que gosta pode ajudar no desempenho, na produtividade e na criatividade. Desde 2019, Fernanda Sampaio tinha o crochê como um hobby, fazendo peças para a própria casa e família. “Em 2020, eu vi que poderia ser minha fonte de renda, e que eu teria que entrar de cabeça e investir nisso”, conta Fernanda, hoje dona da Nanda Crochê, loja online que vende diversos artigos feitos com crochê, em especial roupas.
Sobre a nova relação com o passatempo, ela diz que realmente mudou, porém foi algo positivo: “Inicialmente era uma questão terapêutica, eu gostava muito de fazer. Quando comecei a comercializar e eu percebi que poderia ser independente vivendo da minha própria arte, então ficou muito mais interessante”, enfatiza Fernanda.
Mas mesmo trabalhando com o que gosta, “não é uma tarefa fácil. É desafiador porque são vários gostos, pessoas diferentes todos os dias e a gente vai dividindo ideias até chegar na peça do jeito que ela realmente quer” afirma a empreendedora.
Mas mesmo assim, as novas possibilidades com o trabalho animaram Fernanda: “Estou muito feliz em falar do meu trabalho para as pessoas e elas me procurarem querendo comprar. Sei que é só o começo, mas consigo enxergar um futuro incrível para todos os empreendedores que fazem da arte sua principal fonte de renda”, afirma.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló