É no período de ano novo que muitas das metas para os próximos meses são estabelecidas e os planos para alcançá-las elaborados. De acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (Monitoramento de Empreendedorismo Global), realizado no país pelo Sebrae em 2020, o segundo maior sonho do brasileiro é o de ter o próprio negócio. O primeiro é viajar pelo Brasil. E o terceiro é comprar a casa própria.
O analista técnico do Sebrae, Wagner Santos, explica que tudo começa com a ideia. “Não precisa ser nada novo, pode ser um negócio que exige demanda. Mas mesmo sendo tradicional, o ideal é que tenha um diferencial para que o empreendedor consiga captar novos clientes. Então é definir o tipo de negócio e qual o tamanho”.
“Esse seria o primeiro passo para sair do que é um sonho para ir para um objetivo. São questões que vão nortear todas as outras decisões e planejamentos”, diz o técnico. Além dessa definição, “é importante que o empreendedor se identifique com o tipo de negócio. Não adianta trabalhar com algo que não gosta só porque alguém comentou que dá dinheiro”, destaca Wagner.
E é fundamental que a pessoa entenda as especificidades do que pretende abrir. “É comércio, indústria ou serviço? Como se atende o cliente? Vai trabalhar só ou precisa de equipe?”, exemplifica Wagner. A partir do perfil dos clientes esperados, precisa definir a localização da loja, seja em quais redes sociais estará, seja nos bairros com as lojas físicas.
“Existe uma ferramenta chamada Radar Sebrae Oportunidades, lá o cliente simula o tipo de negócio que ele quer e o site diz quais os melhores bairros ou cidades para abrir aquele negócio”, comenta Wagner. Tudo isso são formas de entender o cliente e levantar as necessidades do negócio.
Lucas Hedjazi, consultor responsável técnico da LH Associados, empresa de consultoria em gestão empresarial, instrui que é necessário que a pessoa entenda o nicho que deseja entrar. “Fazer uma pesquisa de mercado e identificar se está estagnado ou se está em crescimento. Fazer um projeto de viabilidade econômica e financeira para saber o investimento necessário e a perspectiva de retorno”.
O consultor também aconselha que, para quem vai começar um negócio, inicie com recurso próprio. “É muito difícil algum banco dar alguma coisa, ele quer garantia. O melhor momento de pegar um empréstimo é quando você já tem um faturamento que faça com que o endividamento se torne sadio, com presunção de que o negócio cobre a margem”, explica Lucas.
Ele destaca que qualquer projeto precisa ser adequado à realidade. “Vejo muitos empreendedores quebrando aí porque não dimensionam o projeto, às vezes tem pouco dinheiro para um projeto maior ou muito para um projeto menor, então é manter essa balança. A primeira perspectiva do gestor não é nem o lucro, é a chegada ao ponto de equilíbrio. Igualar a receita e despesa para fazer o negócio se sustentar”, indica Lucas.
Wagner dá a dica de que, para atingir esse equilíbrio, fazer uma capacitação de precificação é um bom caminho. Mas o empresário precisa ficar atento para o tempo: “Depende do tipo de negócio, mas geralmente a média é entre um e dois anos. Passou desse período e o negócio ainda não está dando lucro, a gente já puxa o freio de mão e pensa no que está acontecendo”, sinaliza.
Uma das pessoas que pretende abrir um negócio em 2022 é Vishnu Vamshi Gajula, de 34 anos. Ele é indiano, mudou para Salvador em 2019 e percebeu que não existiam restaurantes de comida indiana na cidade. “Eu queria botar um restaurante indiano para saber como as pessoas iam aceitar a comida. Quem viajou já sabe, mas não é todo mundo que viaja, então eu queria tocar todos os segmentos, que todo mundo pudesse experimentar”, conta Vishnu.
E foi durante a pandemia que apareceu a oportunidade, quando estava cozinhando e um vizinho, sentindo o cheiro, pediu para experimentar a comida. Vishnu fez uma porção para ele e logo a novidade se espalhou pelo prédio. “Todo mundo ficou curioso para experimentar comida indiana pela primeira vez e assim eu recebia cinco ou seis pedidos por dia. Depois de uma semana decidimos que íamos botar a comida para vender”, lembra.
Foi assim que, nas redes sociais, criou o Vishnu Chef para as pessoas fazerem os pedidos. “Eu iniciei dentro de casa usando minha geladeira, não tínhamos estrutura para guardar e fazer muitos pedidos. Nós ganhamos um pouco de lucro, alugamos um espaço e desde setembro de 2020 estamos trabalhando com delivery”, conta.
E para 2022, Vishnu quer abrir o restaurante. “A parte burocrática é sempre difícil e como a pandemia ainda está na nossa vida, tenho preocupação. Mas nossa intenção é abrir espaço para botar um restaurante. Estamos procurando alguns lugares e fazendo negociação com algumas pessoas também”, explica Vishnu.
Parte burocrática
Após esse momento de entendimento de como se quer empreender, vem a parte de definir as questões mais burocráticas. Primeiro, é preciso definir o porte do negócio e assim definir o regime tributário. Das pequenas empresas existem três portes: Microempreendedor Individual (MEI), até R$ 81 mil de faturamento anual; Microempresa (ME), até R$ 360 mil anual; e Empresa de Pequeno Porte (EPP), de até R$ 4,8 milhões por ano.
Wagner, do Sebrae, ressalta: “Toda empresa nasce com o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). O MEI é o processo mais simples e rápido de criar o CNPJ, existe um site do governo federal com abertura gratuita e o cadastro é gerado na hora. O MEI tem limite de até um funcionário e tem algumas atividades que não comportam MEI”, diz. Há uma tabela com as atividades possíveis para o MEI.
“Já no formato Microempresa, o processo de abertura a gente sempre orienta que busque um profissional contábil. O CNPJ é feito com uma solicitação no sistema e atualmente leva por vezes um mês e meio. E existem empresas com apenas um proprietário e aquelas que exigem sócio, depende de cada tipo de negócio, tem que conversar com o profissional contábil para ele expor as opções”, orienta Wagner.
A lei permite que o empreendedor faça ajustes no porte da empresa, mas de maneira anual. O consultor da LH Associados recomenda que “comece sempre com o MEI e, de acordo, com o aumento do faturamento, já enquadra para Microempresa. Menos quando já começa com um espaço grande, onde tenha um número maior de funcionários e uma projeção que vá ultrapassar os R$ 81 mil”, fala Lucas.
Após essa definição, há o regime tributário, que apresenta as opções: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, cada um com suas contribuições específicas. Wagner sinaliza: “O passo é procurar o profissional contábil que faça as projeções de quanto o empresário pretende vender, e, em cima disso, ele vê o que fica melhor. Em alguns casos ele vai ser obrigado a escolher um e em outros ele tem a opção, cabe ao profissional contábil mostrar”, ressalta o técnico do Sebrae.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
O analista técnico do Sebrae, Wagner Santos, explica que tudo começa com a ideia. “Não precisa ser nada novo, pode ser um negócio que exige demanda. Mas mesmo sendo tradicional, o ideal é que tenha um diferencial para que o empreendedor consiga captar novos clientes. Então é definir o tipo de negócio e qual o tamanho”.
“Esse seria o primeiro passo para sair do que é um sonho para ir para um objetivo. São questões que vão nortear todas as outras decisões e planejamentos”, diz o técnico. Além dessa definição, “é importante que o empreendedor se identifique com o tipo de negócio. Não adianta trabalhar com algo que não gosta só porque alguém comentou que dá dinheiro”, destaca Wagner.
E é fundamental que a pessoa entenda as especificidades do que pretende abrir. “É comércio, indústria ou serviço? Como se atende o cliente? Vai trabalhar só ou precisa de equipe?”, exemplifica Wagner. A partir do perfil dos clientes esperados, precisa definir a localização da loja, seja em quais redes sociais estará, seja nos bairros com as lojas físicas.
“Existe uma ferramenta chamada Radar Sebrae Oportunidades, lá o cliente simula o tipo de negócio que ele quer e o site diz quais os melhores bairros ou cidades para abrir aquele negócio”, comenta Wagner. Tudo isso são formas de entender o cliente e levantar as necessidades do negócio.
Lucas Hedjazi, consultor responsável técnico da LH Associados, empresa de consultoria em gestão empresarial, instrui que é necessário que a pessoa entenda o nicho que deseja entrar. “Fazer uma pesquisa de mercado e identificar se está estagnado ou se está em crescimento. Fazer um projeto de viabilidade econômica e financeira para saber o investimento necessário e a perspectiva de retorno”.
O consultor também aconselha que, para quem vai começar um negócio, inicie com recurso próprio. “É muito difícil algum banco dar alguma coisa, ele quer garantia. O melhor momento de pegar um empréstimo é quando você já tem um faturamento que faça com que o endividamento se torne sadio, com presunção de que o negócio cobre a margem”, explica Lucas.
Ele destaca que qualquer projeto precisa ser adequado à realidade. “Vejo muitos empreendedores quebrando aí porque não dimensionam o projeto, às vezes tem pouco dinheiro para um projeto maior ou muito para um projeto menor, então é manter essa balança. A primeira perspectiva do gestor não é nem o lucro, é a chegada ao ponto de equilíbrio. Igualar a receita e despesa para fazer o negócio se sustentar”, indica Lucas.
Wagner dá a dica de que, para atingir esse equilíbrio, fazer uma capacitação de precificação é um bom caminho. Mas o empresário precisa ficar atento para o tempo: “Depende do tipo de negócio, mas geralmente a média é entre um e dois anos. Passou desse período e o negócio ainda não está dando lucro, a gente já puxa o freio de mão e pensa no que está acontecendo”, sinaliza.
Uma das pessoas que pretende abrir um negócio em 2022 é Vishnu Vamshi Gajula, de 34 anos. Ele é indiano, mudou para Salvador em 2019 e percebeu que não existiam restaurantes de comida indiana na cidade. “Eu queria botar um restaurante indiano para saber como as pessoas iam aceitar a comida. Quem viajou já sabe, mas não é todo mundo que viaja, então eu queria tocar todos os segmentos, que todo mundo pudesse experimentar”, conta Vishnu.
E foi durante a pandemia que apareceu a oportunidade, quando estava cozinhando e um vizinho, sentindo o cheiro, pediu para experimentar a comida. Vishnu fez uma porção para ele e logo a novidade se espalhou pelo prédio. “Todo mundo ficou curioso para experimentar comida indiana pela primeira vez e assim eu recebia cinco ou seis pedidos por dia. Depois de uma semana decidimos que íamos botar a comida para vender”, lembra.
Foi assim que, nas redes sociais, criou o Vishnu Chef para as pessoas fazerem os pedidos. “Eu iniciei dentro de casa usando minha geladeira, não tínhamos estrutura para guardar e fazer muitos pedidos. Nós ganhamos um pouco de lucro, alugamos um espaço e desde setembro de 2020 estamos trabalhando com delivery”, conta.
E para 2022, Vishnu quer abrir o restaurante. “A parte burocrática é sempre difícil e como a pandemia ainda está na nossa vida, tenho preocupação. Mas nossa intenção é abrir espaço para botar um restaurante. Estamos procurando alguns lugares e fazendo negociação com algumas pessoas também”, explica Vishnu.
Parte burocrática
Após esse momento de entendimento de como se quer empreender, vem a parte de definir as questões mais burocráticas. Primeiro, é preciso definir o porte do negócio e assim definir o regime tributário. Das pequenas empresas existem três portes: Microempreendedor Individual (MEI), até R$ 81 mil de faturamento anual; Microempresa (ME), até R$ 360 mil anual; e Empresa de Pequeno Porte (EPP), de até R$ 4,8 milhões por ano.
Wagner, do Sebrae, ressalta: “Toda empresa nasce com o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). O MEI é o processo mais simples e rápido de criar o CNPJ, existe um site do governo federal com abertura gratuita e o cadastro é gerado na hora. O MEI tem limite de até um funcionário e tem algumas atividades que não comportam MEI”, diz. Há uma tabela com as atividades possíveis para o MEI.
“Já no formato Microempresa, o processo de abertura a gente sempre orienta que busque um profissional contábil. O CNPJ é feito com uma solicitação no sistema e atualmente leva por vezes um mês e meio. E existem empresas com apenas um proprietário e aquelas que exigem sócio, depende de cada tipo de negócio, tem que conversar com o profissional contábil para ele expor as opções”, orienta Wagner.
A lei permite que o empreendedor faça ajustes no porte da empresa, mas de maneira anual. O consultor da LH Associados recomenda que “comece sempre com o MEI e, de acordo, com o aumento do faturamento, já enquadra para Microempresa. Menos quando já começa com um espaço grande, onde tenha um número maior de funcionários e uma projeção que vá ultrapassar os R$ 81 mil”, fala Lucas.
Após essa definição, há o regime tributário, que apresenta as opções: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, cada um com suas contribuições específicas. Wagner sinaliza: “O passo é procurar o profissional contábil que faça as projeções de quanto o empresário pretende vender, e, em cima disso, ele vê o que fica melhor. Em alguns casos ele vai ser obrigado a escolher um e em outros ele tem a opção, cabe ao profissional contábil mostrar”, ressalta o técnico do Sebrae.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló