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Festas populares são canceladas, mas particulares ganham força

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O verão festeiro de Salvador em 2022: festas populares canceladas e as privadas acontecendo em todo canto da cidade. Enquanto os eventos privados, em alguns casos, oferecem certo nível de biossegurança, com o passaporte da vacina e o controle de entrada, os festejos nas ruas, largos  e orla da capital baiana reúnem aglomerações difíceis de controlar. 
Isso fez com que o calendário de festas populares continuasse com restrições, mesmo com o avanço da vacinação, sendo a Lavagem do Bonfim, que aconteceria na próxima quinta-feira,  a mais recente a ser cancelada. Seguir os protocolos é a chave e os eventos privados estão se agarrando a isso, mas será que o público segue à risca? 
Marcando presença em toda Lavagem do Bonfim, a auxiliar de produção Jucineide Coutinho aprova o festejo ser mais uma vez cancelado e, por ela,  nenhuma outra festa deveria acontecer. “Quem é que vai beber e dançar de máscara? Ninguém. Curtir com o povo na rua sempre foi o que mais gostei no Bonfim. Tenho saudade, mas essa saudade hoje é o perigo, pois leva a multidão para as ruas, e a Covid e a gripe estão aí. Passei o final de ano com muitas pessoas e 15 ficaram gripadas, inclusive eu. A coisa está pegando e não podemos relaxar”, afirma.
Bonfim 
Este será o segundo ano consecutivo que a popular Lavagem do Bonfim não acontecerá. O cancelamento foi confirmado pelo prefeito Bruno Reis na última quarta-feira. 
“Essa foi uma decisão conjunta entre a prefeitura e a Basílica do Bonfim e, diante dessa transmissão que está ocorrendo, não podemos dar margem para contribuir para que esses números possam aumentar ainda mais”, explicou. 
No dia 13, a Basílica só será aberta às 18h para a missa da novena, que terá início às 19h, permanecendo fechada ao longo do dia.
Ainda que essas restrições mais rígidas sejam o esperado com a situação atual, a importância dessas manifestações na cidade faz com que a decisão pelo cancelamento  só aconteça próximo das datas festivas. É o caso da Festa de Iemanjá (2 de fevereiro) que, de acordo com a Empresa Salvador Turismo (Saltur), ainda não pode ser dada como suspensa. 
“Todas elas continuam sendo apoiadas pela prefeitura junto aos  organizadores. Entretanto, precisam cumprir os protocolos estabelecidos pelos órgãos sanitários e poder público, o que, na situação atual,  torna a realização delas, no formato tradicional, inviável”, explica o presidente da Saltur, Isaac Edington.
Mas a história é um pouco diferente com as festas privadas. Reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, o padre Edson Menezes explica que o momento é difícil e delicado, mas cada um precisa pensar nas próprias atitudes. “O melhor seria que as festas não acontecessem, mas nem sempre conseguimos que todos estejam de acordo. Então, com as festas acontecendo, apenas peço que tenham muito cuidado, evitem aglomerações e usem máscara. A verdade é que esse é o momento de despertar, uma vez que as festas só acontecem porque as pessoas vão, então isso depende muito da consciência de cada um”, alerta.
E mesmo sem a procissão da Lavagem do Bonfim, antigos eventos que aconteciam em decorrência do Bonfim voltaram em 2022, como é o caso do Bonfim de Tarde, que além do já esperado anfitrião, Bell Marques, vai contar com a presença da banda Harmonia do Samba. As expectativas, afirma o representante da Núcleo 55 Produções – que está realizando o evento –, Leo Ferreira, são as melhores possíveis. 
“Tivemos uma excelente experiência no final de janeiro com o Jingle Bell, no Centro de Convenções, isso nos dá mais tranquilidade para a festa do dia 13,  parte do calendário de eventos da cidade, e gera uma expectativa muito grande dos fãs e do público”, afirma.
Só entra no show, que acontecerá na tarde da próxima quinta-feira na Bahia Marina (Comércio), quem apresentar o comprovante de vacinação com pelo menos duas doses da vacina contra Covid-19. Porém, a infectologista Lorena Galvão relembra que a vacina apenas evita que as pessoas cheguem ao estágio grave da infecção por Covid-19, ela não impede que ninguém pegue ou mesmo transmita o vírus para as outras pessoas. 
“Não podemos abandonar o que viemos fazendo depois dessa luta de dois anos. É importante que todos estejam com pelo menos duas doses a essa altura. A vacinação diminui o número de casos, mas essa pessoa ainda pode ter um caso leve ou ficar assintomática e contaminar outras. Mesmo que a organização desses eventos mantenha os protocolos, o que mais podemos ver nos vídeos dessas festas é o uso incipiente ou inadequado de máscaras pelo público. Não será espantoso se os casos aumentarem ainda mais se essas aglomerações continuarem”, adverte a infectologista.
Festeiro 
Enfermeiro especializado em terapia intensiva, Luan França é um festeiro nato  e gostava de frequentar, antes da pandemia, shows e eventos que garantiam aquela aglomeração saudável que não é vista há quase dois anos. 
“Sinto falta pelo fato de servirem como válvula de escape, além da distração e confraternização. Mas as festas públicas não oferecem segurança, enquanto as privadas, direcionadas a um público menor, em teoria, são mais viáveis quanto às medidas de prevenção. Mas embora estabeleçam critérios relevantes, acredito ainda ser falho por parte das pessoas que as frequentam e descumprem as normas”, salienta.
O que falta, ao que tudo indica, é que esse acordo (quase) silencioso entre as  organizações das festas e o público seja respeitado: protocolo dado deve ser seguido, pois só assim essa retomada dos eventos irá durar. Integrante da Mafuá Produções (que produz a banda Motumbá), Jeane Cordeiro explica que no início da pandemia o desespero foi evidente, mas não demorou para o setor encontrar meios de contornar a situação. Além da realização de lives, ela conta que o apoio às campanhas de vacinação e criação de protocolos foram essenciais, não apenas para lidar com a pandemia, mas também para que o setor se tornasse um exemplo. 
“Então, temos essa abertura que o governo deu para os eventos privados, uma oportunidade que vamos usar de forma responsável e cumprindo rigorosamente todos os protocolos. A expectativa é que, quem sabe, em junho já tenhamos um São João lindo e aberto, da forma que sabemos fazer. Além disso, acredito que essa dobradinha virtual e presencial vai continuar após a pandemia, mesmo que haja alguma mudança ou adaptação, porque no virtual você permite que mais pessoas ouçam aquele artista e sua música. Acredito que isso vá durar mais um tempo”, opina a produtora. 
Saudade  
Vocalista da banda Motumbá, Alexandre Guedes conta que a saudade das festas de rua é imensa, tanto por ele próprio ser um artista das ruas quanto pela força das manifestações populares em Salvador. 
“Sentimos falta, mas seguir os protocolos é uma das únicas formas de voltarmos ao normal mais adiante. Mesmo com a volta dos eventos fechados, como artista sinto falta de tocar para um grande público, mas ao mesmo tempo preciso conscientizar esse público de que o momento é de cuidado e de se vacinar. Daqui a pouco voltamos ao normal, ainda teremos muitos anos de Carnaval pela frente”, afirma.