Secretário da Casa Civil de Salvador
desde o primeiro governo ACM Neto, Luiz Carreira atua também como um “gerentão”
no governo Bruno Reis. Em entrevista exclusiva ao A TARDE, ele diz que o foco
agora “é fazer o planejamento dos quatro anos da gestão”. Até porque, a “meta é
gastar menos com a prefeitura e mais com o cidadão”. À frente do planejamento
estratégico do município até 2024, Carreira diz ainda que “a regra de ouro da
administração é manter sempre todos os parâmetros fiscais”. “Uma prefeitura
mais independente, em que hoje ela gera mais recursos próprios do que recebe de
transferências estaduais e federais, essa equação era totalmente inversa antes
de 2013. Hoje é mais ou menos 55% a 45%. Ou seja, 55% de geração de recursos
próprios e 45% de transferências obrigatórias e transferências voluntárias”,
explicou.
O senhor foi secretário de ACM Neto e
agora atua como secretário também de Bruno Reis. Qual a principal diferença e
semelhança entre eles?
Cada um tem seu próprio estilo de
trabalho. Porém, muito se assemelham no comprometimento em realizar o melhor
pela nossa cidade. A continuidade do projeto e o compromisso com uma gestão
fiscal responsável é uma marca comum às duas gestões. O prefeito ACM Neto
sempre afirmou que, ao entregar o cargo de prefeito, deixaria o prefeito Bruno
Reis muito à vontade para conduzir ao seu modo a gestão, diante os novos
desafios. E é isso que vem de fato acontecendo.
Como o senhor avalia o primeiro ano
do governo Bruno Reis? Quais os dois maiores gargalos da gestão e que
demandaram um esforço maior do senhor, do prefeito e da equipe, como um todo?
Eu costumo brincar que o prefeito não
teve nem o tempo necessário de desfrutar da eleição que ele venceu. Uma eleição
em que ele teve ampla possibilidade de apresentar suas propostas e, de repente,
já se defrontou imediatamente com um grande desafio pela frente, que foi
exatamente a retomada da segunda onda da pandemia, que foi muito mais terrível
até do que a primeira, haja vista que na primeira a gente pôde atuar
gradualmente… Apesar de ter outro fator importante, que foi o desconhecimento
ainda da pandemia, mas ela foi se consolidando aos poucos. Então havia o tempo necessário
para a gente ir tomando as medidas e ir construindo as ações necessárias para o
enfrentamento, ela foi progressiva. A segunda onda veio avassaladora.
Imediatamente, no mês de janeiro e fevereiro, a gente já acordou dentro da
pandemia, com um crescimento rápido dos indicadores e foi necessário tomar uma
série de medidas. Então não foi um ano fácil. Foi um ano extremamente difícil,
um ano que tivemos uma grande preocupação com a pandemia, mas não esquecemos
também de continuar planejando, de continuar fazendo aquilo que o nosso grupo
já vinha fazendo. Ou seja, o primeiro ano é um ano de planejar, é um ano de
preparar os projetos, um ano de captar os recursos necessários, de reorganizar,
porque às vezes é necessário fazer uma reorganização, e o prefeito fez, criou
duas secretarias novas importantes, que são a Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, que é dirigida hoje pela secretária Mila Paes, que vem fazendo um
grande trabalho, e a Secretaria de Ciência e Tecnologia, que também tem um
grande potencial de desenvolvimento. Então esses ajustes foram necessários no
início de gestão. Mas, sobretudo, o foco é em fazer o planejamento dos quatro
anos, em fazer os projetos que a gente vai ter que desenvolver, que vem
desenvolvendo, na verdade, ao longo desses anos de administração da gestão
Bruno Reis.
O senhor, inclusive, comandou esse
processo do planejamento estratégico que planeja a gestão até 2024. O que prevê
esse documento e qual a espinha dorsal dele, já que Salvador é uma cidade
complexa e cheia de demandas e problemas?
A gente circula mais ou menos três
estágios grandes do planejamento estratégico no município, que não existia
anteriormente. Você se lembra quando a gente assumiu, não tinha um planejamento
global de longo e médio prazo e setorial, isso não existia na cidade. Hoje você
tem um arcabouço, a gente tem um arcabouço, é uma cidade de planos, que dá uma
sustentação a todas as nossas ações. Eu cito aqui, por exemplo, o novo PDDU que
foi feito, a nova revisão, o Plano Salvador 500, que foi feito pela Fundação
Mário Leal Ferreira, que conduziu esse trabalho… Os planos setoriais todos.
De ciência e tecnologia, de mobilidade, de resiliência, de mudanças climáticas,
de inovação e tecnologia, a exemplo desses planos. Eles constituem hoje na
verdade um instrumento de trabalho importante. E o plano estratégico sempre
funcionou muito bem. Primeiro para desenvolver uma cultura de planejamento na
prefeitura e fazer com que também todos participem de tudo, ou seja, que todos
tenham conhecimento do que todos fazem. A grande vantagem do planejamento
estratégico é que não só o prefeito tem conhecimento, como também todos os
dirigentes, sejam os secretários, sejam os dirigentes, participem de reuniões
trimestrais de avaliação dessas metas, dos marcos de entrega, dos produtos que
são objetos do plano. Então isso permite, na verdade, uma grande interação na
prefeitura. Quer dizer, um espírito um pouco de pertencimento de cada um a
todos os projetos que são desenvolvidos, e também de solidariedade, porque nas
reuniões sempre acaba acontecendo que um determinado órgão tem a necessidade do
apoio de outro e isso funciona muito bem nessas discussões. Eu diria que três
momentos foram muito importantes. O primeiro momento foi lá atrás, em 2013,
quando foi iniciado, de 2013 até 2016, em que você foi primeiro colocar ordem
na casa, a prefeitura no primeiro ano fez uma rearrumação. Você sabe que foi
feita e que está permitindo, de certa forma, a prefeitura estar hoje nesse
patamar de desenvolvimento. A prefeitura não tinha sequer recursos para
investir. O prefeito ACM Neto recebeu em 2013 um caixa negativo de R$77
milhões. Hoje, é uma prefeitura que não tem grandes dificuldades de fechar suas
contas, fechamos 2021 com as contas em dia, com superávit orçamentário e
financeiro, com os indicadores de avaliação pelos organismos federais
estritamente dentro dos parâmetros. Ou seja, a gente pode continuar tomando
financiamentos. E com dinheiro em caixa para dar sequência aos programas e
projetos que foram planejados durante o ano de 2021, que foi o primeiro ano de
governo do prefeito Bruno Reis. Esse ano de 2022 vai ser um ano de muita
realização. O segundo ponto importante do planejamento, no segundo governo de
ACM Neto, foi na verdade a ampliação da oferta de serviços com maior qualidade,
definindo prioridades para a cidade, para as áreas mais carentes, recebemos
muitos recursos, quase 80% dos recursos foram dirigidos para as áreas mais
carentes. E também manter aquela meta que é gastar menos com a prefeitura e
mais com o cidadão, e manter sobretudo a responsabilidade fiscal, que virou
regra de ouro da administração, tanto nas duas administrações de ACM Neto,
quanto nessa administração do prefeito Bruno Reis. E ele deu exemplo disso,
porque quando a gente enfrentou dificuldades aqui na pandemia, ele conduziu
pessoalmente o trabalho de contenção de despesas, de enquadrar as receitas
sempre maiores do que as despesas, de forma que a gente tenha sempre uma
poupança corrente para fazer os gastos de governo. Sejam gastos de despesas ou
de investimentos.
O senhor atua como um “gerentão”
unindo essas pontas de toda gestão. Existe algum trabalho de métrica, de
acompanhamento das metas, até mesmo de correção de rumo para que esse
planejamento estratégico seja atendido como se espera desde a elaboração dele?
Evidentemente. A Casa Civil é
responsável pela coordenação geral. É um trabalho de todos. Quando a gente
constrói um plano estratégico, o produto da vontade, das prioridades, das
determinações do prefeito e de todos os dirigentes e órgãos da administração
pública. É uma construção conjunta. O resultado que foi apresentado à sociedade
no ano passado, hoje é acompanhado semanalmente, eu tenho uma equipe que se
dedica exclusivamente a isso, cujo diretor é o Celso, que coordena essa equipe,
que se mantém em permanente contato com os pontos focais das secretarias,
órgãos setoriais e entidades da prefeitura. Esse planejamento, esses
acompanhamentos são feitos, avaliados, e inclusive entregues ao prefeito
previamente, antes da próxima reunião. Cada reunião é avaliada depois pelo
próprio prefeito, que fica praticamente o dia inteiro, nós vamos ter uma
segunda etapa da primeira reunião, porque não deu tempo de terminar, na próxima
quinta-feira, em que ele avalia cada meta, cada marco de entrega. Avalia todo o
trabalho que foi feito naqueles projetos selecionados. Os secretários recebem
isso previamente para fazer o seu preparo. Então tem uma articulação importante
dentro do governo que faz com que o governo trabalhe de uma forma mais coesa,
mais coerente, e também mais ágil. Porque a partir das cobranças ali,
evidentemente todo mundo corre para tentar resolver a sua parte.
Na Casa Civil, o senhor também é
responsável pela captação de recursos. O que há de dinheiro previsto em caixa,
sobretudo de repasses e recursos internacionais?
Uma grande mudança que foi feita na
prefeitura, primeiro foi incorporar realmente o conceito de responsabilidade
fiscal. Sem isso, não se consegue avançar. Uma prefeitura que está
inadimplente, que não consegue cumprir os requisitos legais… Você acaba
ficando sem alternativa de captar recursos, sem alternativa de receber
transferências voluntárias do Governo Federal. E esse foi o grande trabalho que
os prefeitos de hoje, tanto ACM Neto como o prefeito Bruno Reis, têm isso muito
incorporado nas suas diretrizes. Esse é o ponto chave. A regra de ouro da
gestão é manter sempre todos os parâmetros fiscais. Não é por outra razão
que fomos eleitos no ano passado como a
melhor capital em gestão fiscal. Isso nos permitiu mudar o patamar de
investimento da prefeitura. Nós saímos de uma prefeitura que não investia
praticamente nada com recursos próprios, muito pouco, para uma prefeitura mais
independente, em que hoje ela gera mais recursos próprios do que recebe de
transferências estaduais e federais, essa equação era totalmente inversa antes
de 2013. Hoje é mais ou menos 55% a 45%. Ou seja, 55% de geração de recursos
próprios e 45% de transferências obrigatórias e transferências voluntárias. O
que mostra, primeiro, o caminho de independência. E a gente responde logo uma
questão que pode vir mais tarde. A prefeitura tem condição de caminhar com seus
próprios passos? O estado tem condição de caminhar com seus próprios passos?
Claro que tem. Basta que façam aquilo que é sua obrigação, o dever de casa, a
gestão fiscal responsável, possibilite um ambiente de negócios adequado e
possa, de fato, responder os anseios da sociedade. Portanto, essa discussão que
normalmente aparece em toda campanha eleitoral de que determinado governador
tem que ser ligado ao prefeito… Isso não se sustenta. O prefeito ACM Neto
demonstrou isso, quando ele, de fato, demonstrou que era possível, mesmo com um
governo de estado de oposição, como nós tivemos todo tempo, e em poucos
momentos com a União a gente podia conversar, mas a maior parte do tempo foi um
governo de oposição à cidade, e a gente conseguiu tocar nossa vida. E dialogar
também com esses entes. Porque também é falso você dizer que… você é
adversário político, não é inimigo político. Então é possível dialogar, nós
dialogamos com o Governo do Estado abertamente durante a pandemia, também com
as obras de infraestrutura da cidade continuamos dialogando, o metrô está com
sua expansão, a prefeitura nunca fez objeções, o governo também não cria
objeções. A grandeza e espírito público, que é o mais importante de tudo isso.
É você olhar que você não está aqui para cumprir uma missão de curto prazo.
Você está olhando sempre para o futuro, e o futuro é a melhoria da vida das
pessoas que é o objetivo maior de qualquer agente público.
No ano passado, o prefeito Bruno Reis
falou sobre a preocupação de não ter recursos para custear a máquina
administrativa, e agora voltou a falar novamente sobre o assunto. A falta de
recursos foi suspensa ou esse é um fantasma e uma demanda que requer uma
atenção constante da gestão?
O que tinha sido situado naquela fase
lá atrás é que havia muita dificuldade. Porque o Governo Federal, por exemplo,
no ano de 2020 transferiu para o combate à pandemia R$585 milhões. Uma ajuda
substancial. No ano passado, em 2021, foram R$114 milhões. Portanto, uma ajuda
muito aquém das necessidades efetivas de se enfrentar a segunda onda que foi
muito mais perversa, muito mais penosa para tratar, que foi uma verdadeira
preocupação para todo mundo, porque de fato você teve que fazer grandes
investimentos. Vou te dar um exemplo. Nós tínhamos que fazer cinco hospitais de
campanha, três já vinham da administração de ACM Neto, mas tínhamos que fazer
mais dois. Mas tínhamos que manter esses cinco durante esse período inicial.
Tivemos que abrir não sei quantos postos de atendimento à população. Abrir
gripários, foram seis gripários. Logo depois você já entrou na vacinação, então
foi a vacinação junto com todo esse processo de combate à pandemia. Então foi
um momento difícil, em que a gente teve que conter gastos em outras áreas para
que houvesse recursos suficientes para poder enfrentar a pandemia sem que a
cidade sofresse com isso. E graças a Deus tudo saiu em conformidade, nós
chegamos a ofertar num momento que não era nossa responsabilidade única 615
leitos de UTI e leitos clínicos. Portanto, é um esforço demandado à cidade
muito acima da sua capacidade financeira de responder. Então nós tivemos que
fazer sacrifícios em outros lugares para poder, evidentemente, fazer esse
enfrentamento. Após o segundo semestre, quando houve o recrudescimento da
pandemia, nós voltamos de novo a fazer os investimentos que a cidade precisa e
continuamos fazendo. Não paramos nenhum momento. O esforço foi concentrado na
saúde, mas nós não paramos nenhum momento de continuar tocando a vida da
cidade. Preparando os projetos, preparando as ações necessárias, preparando os
programas, enfim. E preparando o nosso planejamento.
Quais as três principais ações que
contam com financiamentos internacionais e que terão impacto grande sobre a
vida da cidade?
Uum projeto é o Novo Mané Dendê. Vai
ser um projeto de grande transformação no Subúrbio. É o maior projeto em termos
de recursos de intervenção já realizado no Subúrbio. São cinco bairros
praticamente de abrangência do projeto, nós vamos implantar toda a
infraestrutura de saneamento no rio Mané Dendê, toda uma estrutura de
urbanização, duas escolas, equipamentos sociais, ações diretamente vinculadas
às famílias, atendimento às famílias, enfim. É um projeto de grande repercussão
e também de um volume de investimento muito grande. São US$125 milhões de
dólares que estão sendo aplicados ali. Nunca na história da cidade se fez um
investimento tão grande com recursos contratados pela prefeitura. A carteira de
projeto da prefeitura hoje no total chega a R$3,6 bilhões. Projetos executados,
em execução e a executar. Da gestão de Bruno, mais ou menos R$2 bilhões já
estão assegurados, que vão ser executados durante a gestão dele. Portanto, ACM
Neto executou R$1,6 bilhão, mais ou menos, e ele vai executar a maior parte
agora.
Então Bruno tem, até 2024, R$2
bilhões para investir em projetos na cidade…
Sendo que nós estamos com
financiamento interno e externo. Fora o que a gente gera de recursos próprios.
O investimento é bem maior do que isso. As novas operações de crédito que a
gente está fazendo, são duas operações de crédito importantes. Uma é junto à
Caixa, de cerca de R$800 milhões, e outra internacional de U$$125 milhões. Uma
ação importante que tem grande relevância é o programa específico de
qualificação e formação profissional. Nós vamos investir um recurso
significativo, nunca investido na cidade em termos de qualificação e preparação
profissional.
O senhor é ex-deputado. Por mais que
não esteja diretamente ligado à política partidária hoje, é um ator da
política. Como o senhor avalia o cenário eleitoral na Bahia? Neto é favorito? A
eleição será disputada? E até onde a eleição nacional vai ter peso de decisão
sobre a eleição local esse ano?
A questão nacional… Normalmente o
interesse do eleitor na eleição é local. A eleição municipal se deu toda aqui,
a eleição nacional praticamente não interferiu. O que o eleitor quer saber é o
que o governador dele vai fazer pelo seu estado. Muito menos o que o presidente
fará ou não fará. As pessoas querem o compromisso dos seus governantes, então
acho que essa é uma questão que a discussão vai se dar no campo local. Não
adianta as pessoas acharem que linkando a presidência, isso vai mudar
substancialmente a cabeça das pessoas. Não vai. O interesse das pessoas é mais
próximo. É de maior proximidade. Evidentemente, ou a região que ela mora ou
local onde mora. Foi assim na eleição municipal e tem sido assim nas eleições
estaduais. Não é uma lógica que se sustente. O que vai se discutir são as
questões evidentemente do desenvolvimento do estado.
O eleitor está maduro a esse ponto,
de entender quem ele quer gerindo o governo?
Demais. Hoje com o acesso às
informações que as pessoas têm, qualquer pessoa do interior hoje tem um ou dois
celulares, você tem acesso a todas as informações. O eleitor está mais
interessado no que é que você vai fazer por mim. Menos do que o presidente fará
ou não fará. O importante é saber o que o governador, o político que foi eleito
vai fazer pela sua região, pelo seu município. E tem que colocar nessa conta aí
os 16 anos do PT no poder, o que acaba gerando um processo de cansaço apesar do
governador Rui Costa ser muito diferente de Jaques Wagner.
A
outra questão fundamental é: o favoritismo de ACM Neto é evidente. Ele é uma
pessoa atestada como bom gestor. Ele, ainda jovem, conseguiu ter uma liderança
forte, conseguiu montar uma equipe de trabalho, mesclando profissionais
experientes com profissionais mais novos, inclusive formando uma quantidade de
quadros muito importante, que transformou a cidade de Salvador. Ninguém tem
dúvida disso, o Brasil todo sabe. As pessoas quando vem aqui tomam um susto
quase. Tinha 20 anos que eu não vinha em Salvador, 15 anos que eu não vinha em
Salvador… Uma surpresa. Então, de fato, eu acho que ninguém tem dúvida. Além
do mais, ele também tem uma qualidade importante que é se comunicar bem. As
pessoas têm um amplo conhecimento do que ele representa como político, como
gestor e como administrador. Além da capacidade de articulação, porque hoje ele
é dirigente de um dos maiores partidos do Brasil, que foi uma articulação muito
bem feita.
desde o primeiro governo ACM Neto, Luiz Carreira atua também como um “gerentão”
no governo Bruno Reis. Em entrevista exclusiva ao A TARDE, ele diz que o foco
agora “é fazer o planejamento dos quatro anos da gestão”. Até porque, a “meta é
gastar menos com a prefeitura e mais com o cidadão”. À frente do planejamento
estratégico do município até 2024, Carreira diz ainda que “a regra de ouro da
administração é manter sempre todos os parâmetros fiscais”. “Uma prefeitura
mais independente, em que hoje ela gera mais recursos próprios do que recebe de
transferências estaduais e federais, essa equação era totalmente inversa antes
de 2013. Hoje é mais ou menos 55% a 45%. Ou seja, 55% de geração de recursos
próprios e 45% de transferências obrigatórias e transferências voluntárias”,
explicou.
O senhor foi secretário de ACM Neto e
agora atua como secretário também de Bruno Reis. Qual a principal diferença e
semelhança entre eles?
Cada um tem seu próprio estilo de
trabalho. Porém, muito se assemelham no comprometimento em realizar o melhor
pela nossa cidade. A continuidade do projeto e o compromisso com uma gestão
fiscal responsável é uma marca comum às duas gestões. O prefeito ACM Neto
sempre afirmou que, ao entregar o cargo de prefeito, deixaria o prefeito Bruno
Reis muito à vontade para conduzir ao seu modo a gestão, diante os novos
desafios. E é isso que vem de fato acontecendo.
Como o senhor avalia o primeiro ano
do governo Bruno Reis? Quais os dois maiores gargalos da gestão e que
demandaram um esforço maior do senhor, do prefeito e da equipe, como um todo?
Eu costumo brincar que o prefeito não
teve nem o tempo necessário de desfrutar da eleição que ele venceu. Uma eleição
em que ele teve ampla possibilidade de apresentar suas propostas e, de repente,
já se defrontou imediatamente com um grande desafio pela frente, que foi
exatamente a retomada da segunda onda da pandemia, que foi muito mais terrível
até do que a primeira, haja vista que na primeira a gente pôde atuar
gradualmente… Apesar de ter outro fator importante, que foi o desconhecimento
ainda da pandemia, mas ela foi se consolidando aos poucos. Então havia o tempo necessário
para a gente ir tomando as medidas e ir construindo as ações necessárias para o
enfrentamento, ela foi progressiva. A segunda onda veio avassaladora.
Imediatamente, no mês de janeiro e fevereiro, a gente já acordou dentro da
pandemia, com um crescimento rápido dos indicadores e foi necessário tomar uma
série de medidas. Então não foi um ano fácil. Foi um ano extremamente difícil,
um ano que tivemos uma grande preocupação com a pandemia, mas não esquecemos
também de continuar planejando, de continuar fazendo aquilo que o nosso grupo
já vinha fazendo. Ou seja, o primeiro ano é um ano de planejar, é um ano de
preparar os projetos, um ano de captar os recursos necessários, de reorganizar,
porque às vezes é necessário fazer uma reorganização, e o prefeito fez, criou
duas secretarias novas importantes, que são a Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, que é dirigida hoje pela secretária Mila Paes, que vem fazendo um
grande trabalho, e a Secretaria de Ciência e Tecnologia, que também tem um
grande potencial de desenvolvimento. Então esses ajustes foram necessários no
início de gestão. Mas, sobretudo, o foco é em fazer o planejamento dos quatro
anos, em fazer os projetos que a gente vai ter que desenvolver, que vem
desenvolvendo, na verdade, ao longo desses anos de administração da gestão
Bruno Reis.
O senhor, inclusive, comandou esse
processo do planejamento estratégico que planeja a gestão até 2024. O que prevê
esse documento e qual a espinha dorsal dele, já que Salvador é uma cidade
complexa e cheia de demandas e problemas?
A gente circula mais ou menos três
estágios grandes do planejamento estratégico no município, que não existia
anteriormente. Você se lembra quando a gente assumiu, não tinha um planejamento
global de longo e médio prazo e setorial, isso não existia na cidade. Hoje você
tem um arcabouço, a gente tem um arcabouço, é uma cidade de planos, que dá uma
sustentação a todas as nossas ações. Eu cito aqui, por exemplo, o novo PDDU que
foi feito, a nova revisão, o Plano Salvador 500, que foi feito pela Fundação
Mário Leal Ferreira, que conduziu esse trabalho… Os planos setoriais todos.
De ciência e tecnologia, de mobilidade, de resiliência, de mudanças climáticas,
de inovação e tecnologia, a exemplo desses planos. Eles constituem hoje na
verdade um instrumento de trabalho importante. E o plano estratégico sempre
funcionou muito bem. Primeiro para desenvolver uma cultura de planejamento na
prefeitura e fazer com que também todos participem de tudo, ou seja, que todos
tenham conhecimento do que todos fazem. A grande vantagem do planejamento
estratégico é que não só o prefeito tem conhecimento, como também todos os
dirigentes, sejam os secretários, sejam os dirigentes, participem de reuniões
trimestrais de avaliação dessas metas, dos marcos de entrega, dos produtos que
são objetos do plano. Então isso permite, na verdade, uma grande interação na
prefeitura. Quer dizer, um espírito um pouco de pertencimento de cada um a
todos os projetos que são desenvolvidos, e também de solidariedade, porque nas
reuniões sempre acaba acontecendo que um determinado órgão tem a necessidade do
apoio de outro e isso funciona muito bem nessas discussões. Eu diria que três
momentos foram muito importantes. O primeiro momento foi lá atrás, em 2013,
quando foi iniciado, de 2013 até 2016, em que você foi primeiro colocar ordem
na casa, a prefeitura no primeiro ano fez uma rearrumação. Você sabe que foi
feita e que está permitindo, de certa forma, a prefeitura estar hoje nesse
patamar de desenvolvimento. A prefeitura não tinha sequer recursos para
investir. O prefeito ACM Neto recebeu em 2013 um caixa negativo de R$77
milhões. Hoje, é uma prefeitura que não tem grandes dificuldades de fechar suas
contas, fechamos 2021 com as contas em dia, com superávit orçamentário e
financeiro, com os indicadores de avaliação pelos organismos federais
estritamente dentro dos parâmetros. Ou seja, a gente pode continuar tomando
financiamentos. E com dinheiro em caixa para dar sequência aos programas e
projetos que foram planejados durante o ano de 2021, que foi o primeiro ano de
governo do prefeito Bruno Reis. Esse ano de 2022 vai ser um ano de muita
realização. O segundo ponto importante do planejamento, no segundo governo de
ACM Neto, foi na verdade a ampliação da oferta de serviços com maior qualidade,
definindo prioridades para a cidade, para as áreas mais carentes, recebemos
muitos recursos, quase 80% dos recursos foram dirigidos para as áreas mais
carentes. E também manter aquela meta que é gastar menos com a prefeitura e
mais com o cidadão, e manter sobretudo a responsabilidade fiscal, que virou
regra de ouro da administração, tanto nas duas administrações de ACM Neto,
quanto nessa administração do prefeito Bruno Reis. E ele deu exemplo disso,
porque quando a gente enfrentou dificuldades aqui na pandemia, ele conduziu
pessoalmente o trabalho de contenção de despesas, de enquadrar as receitas
sempre maiores do que as despesas, de forma que a gente tenha sempre uma
poupança corrente para fazer os gastos de governo. Sejam gastos de despesas ou
de investimentos.
O senhor atua como um “gerentão”
unindo essas pontas de toda gestão. Existe algum trabalho de métrica, de
acompanhamento das metas, até mesmo de correção de rumo para que esse
planejamento estratégico seja atendido como se espera desde a elaboração dele?
Evidentemente. A Casa Civil é
responsável pela coordenação geral. É um trabalho de todos. Quando a gente
constrói um plano estratégico, o produto da vontade, das prioridades, das
determinações do prefeito e de todos os dirigentes e órgãos da administração
pública. É uma construção conjunta. O resultado que foi apresentado à sociedade
no ano passado, hoje é acompanhado semanalmente, eu tenho uma equipe que se
dedica exclusivamente a isso, cujo diretor é o Celso, que coordena essa equipe,
que se mantém em permanente contato com os pontos focais das secretarias,
órgãos setoriais e entidades da prefeitura. Esse planejamento, esses
acompanhamentos são feitos, avaliados, e inclusive entregues ao prefeito
previamente, antes da próxima reunião. Cada reunião é avaliada depois pelo
próprio prefeito, que fica praticamente o dia inteiro, nós vamos ter uma
segunda etapa da primeira reunião, porque não deu tempo de terminar, na próxima
quinta-feira, em que ele avalia cada meta, cada marco de entrega. Avalia todo o
trabalho que foi feito naqueles projetos selecionados. Os secretários recebem
isso previamente para fazer o seu preparo. Então tem uma articulação importante
dentro do governo que faz com que o governo trabalhe de uma forma mais coesa,
mais coerente, e também mais ágil. Porque a partir das cobranças ali,
evidentemente todo mundo corre para tentar resolver a sua parte.
Na Casa Civil, o senhor também é
responsável pela captação de recursos. O que há de dinheiro previsto em caixa,
sobretudo de repasses e recursos internacionais?
Uma grande mudança que foi feita na
prefeitura, primeiro foi incorporar realmente o conceito de responsabilidade
fiscal. Sem isso, não se consegue avançar. Uma prefeitura que está
inadimplente, que não consegue cumprir os requisitos legais… Você acaba
ficando sem alternativa de captar recursos, sem alternativa de receber
transferências voluntárias do Governo Federal. E esse foi o grande trabalho que
os prefeitos de hoje, tanto ACM Neto como o prefeito Bruno Reis, têm isso muito
incorporado nas suas diretrizes. Esse é o ponto chave. A regra de ouro da
gestão é manter sempre todos os parâmetros fiscais. Não é por outra razão
que fomos eleitos no ano passado como a
melhor capital em gestão fiscal. Isso nos permitiu mudar o patamar de
investimento da prefeitura. Nós saímos de uma prefeitura que não investia
praticamente nada com recursos próprios, muito pouco, para uma prefeitura mais
independente, em que hoje ela gera mais recursos próprios do que recebe de
transferências estaduais e federais, essa equação era totalmente inversa antes
de 2013. Hoje é mais ou menos 55% a 45%. Ou seja, 55% de geração de recursos
próprios e 45% de transferências obrigatórias e transferências voluntárias. O
que mostra, primeiro, o caminho de independência. E a gente responde logo uma
questão que pode vir mais tarde. A prefeitura tem condição de caminhar com seus
próprios passos? O estado tem condição de caminhar com seus próprios passos?
Claro que tem. Basta que façam aquilo que é sua obrigação, o dever de casa, a
gestão fiscal responsável, possibilite um ambiente de negócios adequado e
possa, de fato, responder os anseios da sociedade. Portanto, essa discussão que
normalmente aparece em toda campanha eleitoral de que determinado governador
tem que ser ligado ao prefeito… Isso não se sustenta. O prefeito ACM Neto
demonstrou isso, quando ele, de fato, demonstrou que era possível, mesmo com um
governo de estado de oposição, como nós tivemos todo tempo, e em poucos
momentos com a União a gente podia conversar, mas a maior parte do tempo foi um
governo de oposição à cidade, e a gente conseguiu tocar nossa vida. E dialogar
também com esses entes. Porque também é falso você dizer que… você é
adversário político, não é inimigo político. Então é possível dialogar, nós
dialogamos com o Governo do Estado abertamente durante a pandemia, também com
as obras de infraestrutura da cidade continuamos dialogando, o metrô está com
sua expansão, a prefeitura nunca fez objeções, o governo também não cria
objeções. A grandeza e espírito público, que é o mais importante de tudo isso.
É você olhar que você não está aqui para cumprir uma missão de curto prazo.
Você está olhando sempre para o futuro, e o futuro é a melhoria da vida das
pessoas que é o objetivo maior de qualquer agente público.
No ano passado, o prefeito Bruno Reis
falou sobre a preocupação de não ter recursos para custear a máquina
administrativa, e agora voltou a falar novamente sobre o assunto. A falta de
recursos foi suspensa ou esse é um fantasma e uma demanda que requer uma
atenção constante da gestão?
O que tinha sido situado naquela fase
lá atrás é que havia muita dificuldade. Porque o Governo Federal, por exemplo,
no ano de 2020 transferiu para o combate à pandemia R$585 milhões. Uma ajuda
substancial. No ano passado, em 2021, foram R$114 milhões. Portanto, uma ajuda
muito aquém das necessidades efetivas de se enfrentar a segunda onda que foi
muito mais perversa, muito mais penosa para tratar, que foi uma verdadeira
preocupação para todo mundo, porque de fato você teve que fazer grandes
investimentos. Vou te dar um exemplo. Nós tínhamos que fazer cinco hospitais de
campanha, três já vinham da administração de ACM Neto, mas tínhamos que fazer
mais dois. Mas tínhamos que manter esses cinco durante esse período inicial.
Tivemos que abrir não sei quantos postos de atendimento à população. Abrir
gripários, foram seis gripários. Logo depois você já entrou na vacinação, então
foi a vacinação junto com todo esse processo de combate à pandemia. Então foi
um momento difícil, em que a gente teve que conter gastos em outras áreas para
que houvesse recursos suficientes para poder enfrentar a pandemia sem que a
cidade sofresse com isso. E graças a Deus tudo saiu em conformidade, nós
chegamos a ofertar num momento que não era nossa responsabilidade única 615
leitos de UTI e leitos clínicos. Portanto, é um esforço demandado à cidade
muito acima da sua capacidade financeira de responder. Então nós tivemos que
fazer sacrifícios em outros lugares para poder, evidentemente, fazer esse
enfrentamento. Após o segundo semestre, quando houve o recrudescimento da
pandemia, nós voltamos de novo a fazer os investimentos que a cidade precisa e
continuamos fazendo. Não paramos nenhum momento. O esforço foi concentrado na
saúde, mas nós não paramos nenhum momento de continuar tocando a vida da
cidade. Preparando os projetos, preparando as ações necessárias, preparando os
programas, enfim. E preparando o nosso planejamento.
Quais as três principais ações que
contam com financiamentos internacionais e que terão impacto grande sobre a
vida da cidade?
Uum projeto é o Novo Mané Dendê. Vai
ser um projeto de grande transformação no Subúrbio. É o maior projeto em termos
de recursos de intervenção já realizado no Subúrbio. São cinco bairros
praticamente de abrangência do projeto, nós vamos implantar toda a
infraestrutura de saneamento no rio Mané Dendê, toda uma estrutura de
urbanização, duas escolas, equipamentos sociais, ações diretamente vinculadas
às famílias, atendimento às famílias, enfim. É um projeto de grande repercussão
e também de um volume de investimento muito grande. São US$125 milhões de
dólares que estão sendo aplicados ali. Nunca na história da cidade se fez um
investimento tão grande com recursos contratados pela prefeitura. A carteira de
projeto da prefeitura hoje no total chega a R$3,6 bilhões. Projetos executados,
em execução e a executar. Da gestão de Bruno, mais ou menos R$2 bilhões já
estão assegurados, que vão ser executados durante a gestão dele. Portanto, ACM
Neto executou R$1,6 bilhão, mais ou menos, e ele vai executar a maior parte
agora.
Então Bruno tem, até 2024, R$2
bilhões para investir em projetos na cidade…
Sendo que nós estamos com
financiamento interno e externo. Fora o que a gente gera de recursos próprios.
O investimento é bem maior do que isso. As novas operações de crédito que a
gente está fazendo, são duas operações de crédito importantes. Uma é junto à
Caixa, de cerca de R$800 milhões, e outra internacional de U$$125 milhões. Uma
ação importante que tem grande relevância é o programa específico de
qualificação e formação profissional. Nós vamos investir um recurso
significativo, nunca investido na cidade em termos de qualificação e preparação
profissional.
O senhor é ex-deputado. Por mais que
não esteja diretamente ligado à política partidária hoje, é um ator da
política. Como o senhor avalia o cenário eleitoral na Bahia? Neto é favorito? A
eleição será disputada? E até onde a eleição nacional vai ter peso de decisão
sobre a eleição local esse ano?
A questão nacional… Normalmente o
interesse do eleitor na eleição é local. A eleição municipal se deu toda aqui,
a eleição nacional praticamente não interferiu. O que o eleitor quer saber é o
que o governador dele vai fazer pelo seu estado. Muito menos o que o presidente
fará ou não fará. As pessoas querem o compromisso dos seus governantes, então
acho que essa é uma questão que a discussão vai se dar no campo local. Não
adianta as pessoas acharem que linkando a presidência, isso vai mudar
substancialmente a cabeça das pessoas. Não vai. O interesse das pessoas é mais
próximo. É de maior proximidade. Evidentemente, ou a região que ela mora ou
local onde mora. Foi assim na eleição municipal e tem sido assim nas eleições
estaduais. Não é uma lógica que se sustente. O que vai se discutir são as
questões evidentemente do desenvolvimento do estado.
O eleitor está maduro a esse ponto,
de entender quem ele quer gerindo o governo?
Demais. Hoje com o acesso às
informações que as pessoas têm, qualquer pessoa do interior hoje tem um ou dois
celulares, você tem acesso a todas as informações. O eleitor está mais
interessado no que é que você vai fazer por mim. Menos do que o presidente fará
ou não fará. O importante é saber o que o governador, o político que foi eleito
vai fazer pela sua região, pelo seu município. E tem que colocar nessa conta aí
os 16 anos do PT no poder, o que acaba gerando um processo de cansaço apesar do
governador Rui Costa ser muito diferente de Jaques Wagner.
A
outra questão fundamental é: o favoritismo de ACM Neto é evidente. Ele é uma
pessoa atestada como bom gestor. Ele, ainda jovem, conseguiu ter uma liderança
forte, conseguiu montar uma equipe de trabalho, mesclando profissionais
experientes com profissionais mais novos, inclusive formando uma quantidade de
quadros muito importante, que transformou a cidade de Salvador. Ninguém tem
dúvida disso, o Brasil todo sabe. As pessoas quando vem aqui tomam um susto
quase. Tinha 20 anos que eu não vinha em Salvador, 15 anos que eu não vinha em
Salvador… Uma surpresa. Então, de fato, eu acho que ninguém tem dúvida. Além
do mais, ele também tem uma qualidade importante que é se comunicar bem. As
pessoas têm um amplo conhecimento do que ele representa como político, como
gestor e como administrador. Além da capacidade de articulação, porque hoje ele
é dirigente de um dos maiores partidos do Brasil, que foi uma articulação muito
bem feita.